Nos anos 60
acreditava-se que os computadores podiam substituir os professores. Eram mais
perfeitos, pacientes, não se aborreciam com as respostas erradas e esperavam o
tempo que fosse preciso. O aluno poderia treinar vezes sem conta e ir subindo
de níveis de conhecimento, motivado e autónomo na busca pelo saber. Mais tarde
percebeu-se que o ensino e treino assistido com computador, não promoviam
desenvolvimento nenhum, nem aprendizagem e que todas essas experiências se
revelaram um desastre. Mas porquê? Porque não há desenvolvimento sem interação
com outras pessoas e não há ensino sem um professor.
As pessoas são
insubstituíveis e nós somos uma espécie gregária que não se desenvolve sem uma
tribo e não aprende sem os outros, muito menos sem adultos qualificados. Daí
que os contextos de aprendizagem e os agentes de ensino, são mais importantes
do que o aquilo que se ensina. O caminho, supera o fim. Os processos, são mais
importantes que o resultado. Isto faz parte da nossa espécie e é incontornável.
Uma criança, sem pessoas por perto, não se torna num ser humano. Esta ligação
umbilical entre os seres humanos, torna-nos numa espécie fantástica, que apenas
prospera em grupo.
Por isso não há escola
à distância. Isso não existe. Nada substitui a escola como o contexto natural
onde as aprendizagens ocorrem. E não é só porque na escola há professores, mas
também porque na escola há outros alunos. O que aprendemos com os outros é, tão
importante como o que aprendemos com os Mestres. O saber não é apenas
académico, é construído por experiências, comunicação, afetos, relações, confrontos.
Com esta pandemia,
ficou isto muito claro. E ficou ainda mais claro que a tecnologia por si, não
substitui nada. Os computadores são meras ferramentas, tal e qual um caderno e
um lápis. Tudo vai depender da forma como forem utilizados. Eu posso ter um
computador por aluno numa sala e esses alunos terem uma aprendizagem de menor
qualidade em relação a uma turma com livros e cadernos. Da mesma forma que ter
um computador em casa, de nada serve, se não soubermos usá-lo para nosso
desenvolvimento. Se não o usarmos para descobrir, explorar, viajar, comunicar.
Por tudo isto, é
preciso não entrar em grandes eforias com essa ideia que agora vai sendo
falada, dos alunos terem um computador e das escolas ensinarem com
computadores. Numa família, onde não se lê um livro, onde não se debatem
ideias, onde não se conversa, onde não se comentam notícias, onde os jovens não
são acompanhados, amados e onde não se incentiva o conhecimento e a
curiosidade; de nada serve colocar lá um computador.
Da mesma forma que
numa sala de aula, onde o professor transmite o conhecimento de cima para
baixo, sem inquietar os seus alunos, sem desenvolver a criatividade ou sentido
crítico, onde não há autonomia nem gosto por aprender; pode haver mil um
computadores nessa sala, que não estão lá a fazer nada.
Os computadores são
apenas ferramentas e os benefícios do seu uso, refletem a forma e os objetivos
do seu uso. Antes e durante a existência de um computador há que cuidar de
aspetos mais importantes na vida das famílias, como as desigualdades, a
pobreza, a falta de perspetivas, a perda do foco no que é realmente importante,
para além de apenas lutar para sobreviver ou ter um mínimo de estabilidade,
conforto, de cuidados de saúde ou de paz de espírito.
Também nas escolas,
antes de pensarmos nos computadores, temos de cuidar da pedagogia, do sucesso,
do desenvolvimento de capacidades, na utilização de competências mais
interessantes como a análise, a criatividade, a capacidade de avaliar através
de valores, o sentido crítico.
Se pudermos fazer tudo
isto com os computadores ao nosso lado, cuidando da inclusão digital, tanto
melhor, mas nada disto se consegue pela simples existência dos mesmos. A
qualidade do ensino e o combate às desigualdades, não dependem da presença de
um computador.
Já que a pandemia nos
tem trazido esta visão mais tecnológica da vida, não vamos voltar a cair no
fascínio desinformado pelas tecnologias, como se elas pudessem substituir o que
é realmente importante na nossa vida e a sua simples presença, fosse um fim em
si mesmo.
Publicado
originalmente no meu Facebook a 28 de abril durante período de quarentena.
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