A Educação
Especial é um ramo da Educação destinado a responder às necessidades
específicas de alunos, de acordo com as suas características, capacidades e
necessidades, tendo a finalidade de cumprir o seu potencial na interação com os
desafios do contexto.
Falamos de
alunos com deficiência, perturbações do desenvolvimento ou outras condições
intrínsecas, que se constituem como barreiras ao seu desenvolvimento, à
aprendizagem dentro do currículo padrão e à sua qualidade de vida em geral.
Um docente de
Educação Especial tem de saber, antes de mais, como todas crianças aprendem,
como se desenvolvem, que etapas e que percursos fazem… em termos intelectuais,
emocionais, sociais, físicos, numa interseção de áreas da saúde, da psicologia
do desenvolvimento, da pedagogia e outras ciências sociais. Para além disso,
deve dominar um conjunto de adaptações, medidas e estratégias individualizadas
de ensino para os alunos com Necessidades Específicas, NE, para promover a sua aprendizagem e
desenvolvimento de forma adequada, incluindo ferramentas e conhecimentos específicos
em acessibilidade, tecnologia adaptada, áreas de aprendizagem específicas como
língua gestual, braille, orientação e mobilidade, comunicação aumentativa, adaptação
de materiais, estratégias e métodos, processos de organização comunicacional ou
comportamental, de aprendizagem funcional, de promoção das interações sociais e
de transição para a vida, entre outras; sabendo quando, porquê, em que
contextos e a quem se aplicam.
Este
conhecimento permite desenvolver um conjunto de propostas adequadas de remoção
de barreiras, tendo em conta o que está em causa naquele particular e porque se
seguem determinados caminhos/estratégias.
Neste processo
de conhecer e promover uma melhor educação destes alunos com Necessidades
Específicas, é importante conhecer ainda as condições individuais, as
perturbações do desenvolvimento, transtornos e deficiências, saúde e diferentes
situações intrínsecas, como causas de barreiras individuais. Sabe-se que todas
estas situações individuais se manifestam no confronto com os contextos e é
nessa medida que se tornam um maior ou menor problema. Por isso a escola
necessita de professores treinados nesta área com um olhar abrangente das
condições individuais, para proceder à análise do que se passa nos contextos de
aprendizagem e da vida escolar e saber como atuar junto dos alunos e da
comunidade educativa.
Não basta ter
ferramentas para pensar no que fazer, é também ter o conhecimento do porque se
está a fazer assim e não de outra maneira qualquer. Conhecer as condições que
influenciam o desenvolvimento, permite igualmente uma melhor aferição dos
apoios, medidas e recursos a afetar.
A Educação
Especial complementa as restantes áreas disciplinares e é transversal a todas
elas e a todos os ciclos, permitindo ainda o diálogo de diferentes áreas
científicas. É esta a sua riqueza e o seu contributo base.
A Convenção dos
direitos da Pessoa com Deficiência (2006), vem valorizar os direitos destas
pessoas, dizendo que não basta eliminar a discriminação e promover a integração
e a vida autónoma; é importante conhecer os elementos que caracterizam essa
pessoa, para se poder identificar a gravidade dos seus limites e a
potencialidade das suas capacidades.
No atual “A
Guide for ensuring inclusion and equity in education” (UNESCO, 2017 –
Education 2030), os termos Educação Especial e Necessidades Educativas
Especiais fazem parte, bem como é dado destaque para a fragilidade e risco de
exclusão das crianças com deficiência e a necessidade de respostas específicas
(p.13). Os aspetos ligados à deficiência e às perturbações do desenvolvimento,
estão desde há muito estudados, como fatores de alto risco para a exclusão.
O termo Deficiência
não caracteriza a pessoa como um atributo determinista, mas sim como o
resultado da interação das suas características individuais com o meio. É
preciso conhecer, para incluir, desmontando os processos de exclusão. Não dar
atenção ao conhecimento das características desenvolvimentais das pessoas com
deficiência ou incapacidade, é apostar no desconhecimento que vai criar
barreiras e tornar invisíveis as suas necessidades específicas e a consequente
afetação e rentabilização de recursos específicos. A prática é moldada pelo
conhecimento que se tem das situações, dos conceitos e pela utilização de uma linguagem
adequada.
Por isso o
Professor de Educação Especial tem de ter conhecimento das perturbações mais
frequentes com que a escola vai lidar, quer pelas suas características, quer
pela forma como alteram o funcionamento. Daí a importância de conhecer diagnósticos,
sintomas, comportamentos, funções cognitivas, afetivas, traços de
personalidade, físicos, combinação de perturbações; bem como os aspetos que
mais podem influenciar boas decisões educativas.
Não é preciso
catalogar para intervir, mas é fundamental conhecer o indivíduo para intervir
adequadamente, usando este conhecimento para identificar as barreiras
individuais e planear o seu derrube de forma informada, sendo também atores do
seu destino.
Devem ser usadas as terminologias técnicas e da saúde, internacionalmente adotadas para um diálogo claro e consequente. Não devemos ter
medo das palavras quando elas são usadas para promover a igualdade. Devemos
sim, centrarmo-nos nas nossas ações, porque são elas que vão dar o significado
às palavras.
A Educação
Especial é uma área da Educação para responder às necessidades específicas das
pessoas com deficiência e/ou com dificuldades de aprendizagem. Os professores
de EE devem ser detentores de saberes para responder às especificidades da
deficiência e/ou dificuldades de aprendizagem. O foco não está na incapacidade,
mas no saber olhá-las e dar-lhe o uso devido para promover cada aluno,
nomeadamente sabendo mobilizar os recursos e as estratégias específicas.
A Inclusão como objetivo da Educação
Especial
Inicialmente a Educação Especial centrou-se no indivíduo e desenvolveu-se em ambientes segregados, porque nos anos 70 e 80 em Portugal a massificação do ensino criou problemas de tal ordem, que alguns ficaram para trás. Criaram-se as instituições de educação especial, separadas do sistema educativo regular, para dar resposta às necessidades educativas dessa população. Portanto nós podemos ter uma Educação Especial, mas não inclusiva. Portugal no final dos anos 80, subscreve documentos internacionais importantes na definição de sistemas educativos inclusivos, desenvolvendo toda uma dinâmica de desinstitucionalização e de criação de condições nas escolas regulares. E foi aqui que mais uma vez entrou em ação a Educação Especial.
DL 319/1991- Primeira lei de Educação Especial, com o objetivo de
promover a integração, dos alunos com necessidades educativas especiais
decorrentes de uma deficiência ou não.
Decreto-Lei nº20 de 2006 de 31 de janeiro 2006- Criado o Grupo
Disciplinar no Sistema Regular de Ensino, dos Professores de Educação
Especial cuja função é: “promover a existência de condições para a
inclusão socio educativa de crianças e jovens, com nee de carater
prolongado.”
No Dec-lei 3/2008 com os seus defeitos e potencialidades, era claro ao
definir que a Educação Especial tinha o objetivo de promover a Inclusão,
como seria lógico, dado o historial e o avanço neste domínio, conseguido em
grande medida, pela Educação Especial ao longo de 30 anos.
A Educação Especial passa a atuar no contexto natural da escola e tem como
objetivo de ação a Inclusão.
|
A Educação
Inclusiva propõe que todos os alunos, com ou sem necessidades específicas, tenham
o direito de interagir e aprender juntos nos contextos naturais de
aprendizagem. É um processo contínuo de eliminação de barreiras, para uma
participação plena em todas as dimensões da sociedade. Ela existe porque há exclusão e excluídos da/na escola e do ensino, daí a necessidade de respeitar as diferenças e
promover a igualdade de acesso e de direitos, através de mecanismos de
equidade, porque todos somos diferentes e nem todos partimos do mesmo ponto. Só
se podem desenvolver processos de equidade, quando se conhecem os diferentes
pontos de partida de cada um.
A Inclusão tem
ainda uma dimensão social e pessoal muito importante de realização e
cumprimento de um projeto de vida próprio, ao mesmo tempo que se é aceite e
reconhecido pelos outros como um igual, promovendo o desenvolvimento socioafetivo dos alunos.
Sabendo que a
Inclusão é um direito, conquistado pela luta pela igualdade das pessoas com
deficiência ao longo de décadas, faz com que hoje não seja concebível uma
Educação Especial que não seja Inclusiva.
Com a
necessidade de promover a Inclusão, a função do professor de Educação Especial
tornou-se mais abrangente, deixou de estar apenas centrada nas características
do aluno e passou a atuar também no contexto educativo junto dos
professores, das famílias, de toda a escola e da comunidade educativa. O aluno no
seu contexto natural é o palco da construção dos necessários contextos
inclusivos, que devem ser criados nas escolas. Contextos de aprendizagem e
contextos de desenvolvimento social e de inclusão em todos os aspetos da vida
da escola e das relações ricas que aí se desenvolvem.
O professor de
EE, para além de especialista no atendimento e planeamento para os alunos com
necessidades específicas, passa também a exercer um papel de diálogo
transversal, de consultor, colaborador, formador e parceiro. A sua função, não
ficou diminuída, muito pelo contrário, ficou mais rica e abrangente.
A- Primeiramente
tem de compreender os efeitos que as perturbações têm no desenvolvimento
individual no confronto com o contexto e as aprendizagens atípicas e atuar com
estratégias individualizadas adequadas. Dominar um conjunto de estratégias
individualizadas de ensino dos alunos com NE, para promover a sua aprendizagem;
criar ambientes favoráveis à aprendizagem e inclusão; promover interações
positivas, avaliar e tomar decisões para cada aluno;
B- Paralelamente
pega neste conhecimento específico e leva-o para o contexto natural de educação, que é a escola e a sala de aula, trabalhando em conjunto com toda a comunidade
educativa. A Inclusão na escola prepara a inclusão social e deve prever interações
e apoio no desenvolvimento social e afetivo dos jovens para a sua identificação
e adequado desenvolvimento físico e psicológico. A Inclusão na aprendizagem
apela à formação pedagógica dos professores de EE, (daí a importância de serem
docentes), que têm de dominar aspetos centrais para possibilitar a inclusão nos
contextos naturais de aprendizagem, nomeadamente o apoio, a diferenciação
pedagógica, a flexibilidade curricular, metodologias ativas de ensino, a
autonomização dos alunos, o foco nas capacidades e nos processos, ensino
colaborativo, entre outros.
A Educação
Inclusiva tornou-se o objetivo da Educação Especial. Uma não pode existir sem a
outra, porque uma fornece ferramentas essenciais para conhecer e atuar na
diversidade e a outra dá o propósito à utilização dessas ferramentas.
É hoje claro que a função dos
professores de Educação Especial é promover as condições para a Inclusão
socioeducativa de crianças e jovens com NE e se hoje nos orgulhamos do
nosso sistema nesta área e se existem muitas escolas e professores
empenhados em promover a Inclusão e qualidade de ensino para os alunos com NE,
isso acontece graças à ação dos professores de Educação Especial ao longo de
décadas.
O fato dos docentes de Educação
Especial terem como objetivo promover a Inclusão, é uma mais-valia para o
sistema e levou a que, também na sua formação, a Educação Inclusiva estivesse
presente, dado que se constituiu como objetivo central do seu trabalho. É por
isso de elementar justiça que isso seja reconhecido, valorizado e reforçado.
Os professores
de Educação Especial passam a ter este papel fundamental abrangente em duas
dimensões, quer através de um trabalho de diálogo interdisciplinar e apoio
indireto à escola e pais, quer também através de intervenção direta com alunos
sempre que necessário.
O foco da
Educação Especial está nas capacidades não está na categorização nem nas
incapacidades. Deve-se, no entanto, saber olhar para ambas, compreendê-las e
procurar as respostas que facilitam a aprendizagem e a participação na sala de
aula e no contexto escolar e social, para que se possa falar de Inclusão. O papel do professor
de Educação Especial deverá também promover a articulação e a interseção com
todos os intervenientes para adaptar estratégias, criar acessibilidades e
mobilizar todos os instrumentos de flexibilização curricular para promover contextos inclusivos.
Não perder o equilíbrio para um lado, sob pena de diluir o indivíduo.
Nem perder o equilíbrio para o outro, sob pena de o privar dos seus contextos naturais.
Não perder o equilíbrio para um lado, sob pena de diluir o indivíduo.
Nem perder o equilíbrio para o outro, sob pena de o privar dos seus contextos naturais.
Em ambos os
casos, o resultado será a exclusão.
Todos os professores são professores de
Inclusão.
Pensar que
apenas pela ação da Educação Especial a escola se torna inclusiva é um erro. A
simples presença dos professores de Educação Especial, mesmo que com o objetivo
de promover a inclusão dos alunos com Necessidades Específicas, não torna a
escola inclusiva para TODOS.
Falta cumprir a
Inclusão na escola e no sistema. Todos devem partilhar o mesmo caminho de
construção permanente e não apenas alguns, sob pena de não haver caminho, ou sequer
destino.
A Educação
Inclusiva é um valor e um desígnio transversal, que deve motivar uma reforma
educacional, não apenas para alunos com dificuldades na aprendizagem, ou com necessidades
específicas. Não se confina a determinado nicho, é antes um processo de toda a escola
e, como tal, tem de ser visto tendo em conta a visão da própria escola e a
participação dos professores e dos pais. Uma inclusão de cima para baixo,
ignorando aqueles que serão os seus obreiros, não terá grandes resultados
porque não vai ter em conta a Inclusão até dos próprios professores. A escola
tem hoje desafios de insucesso, violência, multiculturalidade e de diversidade a diferentes níveis,
que devem motivar um olhar muito mais abrangente em relação à promoção de uma
Escola Inclusiva.
Para se
criarem condições para que os professores possam mudar, arriscar e criar, é necessário
dar-lhes recursos, autonomia e, acima de tudo, ouvi-los. Os professores de EE sabem há muito, as suas funções e o seu lugar no sistema, resta saber se é isto que o sistema quer deles e da EE. Desenvolver a Inclusão na escola, não passa por,
de repente, dizer que o professor de Educação Especial é de Educação Inclusiva
e querer a partir daí que a Inclusão se generalize. A Educação Inclusiva é uma
tarefa de todos os professores e de toda a escola. Todos os professores são
professores de Inclusão. A Educação
Especial é um dos parceiros nesse percurso. Porque se assim não for, a Inclusão
não se concretiza, só porque um pequeno grupo profissional assim se denomina.
Sabemos hoje
que a Educação Inclusiva só se realiza num sistema de ensino diferenciado e
individualizado, que responda às diferenças e isso vem trazer à baila todo um
conjunto de conhecimentos pedagógicos que não devem ser apenas exclusivos da Educação Especial, mas sim transversais ao processo ensino-aprendizagem. São
desafios de ordem pedagógica para uma escola melhor, que deve inclui todos.
Aqui a
Educação Especial estará na primeira linha, pelo seu percurso e pela formação
dos seus profissionais, mas estes, não podem estar sozinhos, têm de fazer parta
de uma reforma global do sistema educativo, na área legislativa, gestão e
organização escolar, pedagógica, nos processos de ensino, na avaliação, na vida
social escolar e na formação inicial dos professores de todos os ramos da
educação.
Em resumo, o que falta cumprir na
Educação Especial?
1º - Estabelecer definitivamente e sem ambiguidades, um corpo de conhecimento assumido oficialmente, deste ramo da Educação e valorizá-lo como fundamental para a educação inclusiva destes alunos e para a construção da inclusão nas escolas. Reconhecer as diferentes dimensões da Educação Especial Inclusiva como um todo;
2º - Clarificar e regulamentar um Perfil Funcional adequado a estes professores, que responda às escolas e aos pais, definindo claramente o que se pretende da Educação Especial, sem olhar apenas a aspetos financeiros;
3º - Melhorar a formação dos professores de Educação Especial, tornando-a abrangente nas
suas dimensões, sólida nos pressupostos científicos, uniforme em todo o país,
valorizante para os professores e adequada às exigências;
4º Continuar a lutar
para qualificar a educação destes alunos na escola regular, quer ao
nível da aprendizagem, quer ao nível da participação social e das interações, na aceitação pelo outro.
Todas estas transformações só se conseguem através de uma reforma global do sistema educativo
•
na área legislativa,
•
gestão e organização escolar,
•
nos processos de ensino,
•
na vida social escolar
•
na formação inicial dos professores de todos os
ramos da educação
•
na cultura e nos valores
•
na perceção dos próprios sobre a mudança.
Todos os ramos da Educação deverão ter como desígnio a Inclusão, a Educação Especial é apenas um deles.
É um erro
pensar que se constrói uma Escola Inclusiva, eliminando áreas educacionais, em vez
de as fortalecer.
Temos de
ter uma Educação Especial Inclusiva, num Sistema Educativo Inclusivo, como
parte de um mesmo desígnio, não permitindo que algo mude, para que todo
o ensino fique na mesma.
Texto base
da intervenção na Conferência On-line “Vencer a Crise”
27 a 29 de
abril 2020
Ver intervenção:
Concordo plenamente!
ResponderEliminarpois...
ResponderEliminarMuito bom!
ResponderEliminarBom dia,
ResponderEliminarobrigado pela partilha e por explicitar claramente o conteúdo funcional do professor de educação especial na Escola e na sociedade. A construção de uma Escola Inclusiva é não só um objetivo como também um processo, que parte da base, na relação professor-aluno ou simplesmente na relação entre duas pessoas em contexto, para o topo, na dialética com as estrutura nacionais que regem a dinâmica e organização da própria escola. Nisto, o seu quadro sobre o caminho que Portugal tomou ao longo do tempo demonstra a seriedade com que se tem encarado este assunto, olhando-a também como representação da maturidade da Democracia.
"O caminho faz-se caminhando..." as nossas escolas são imperfeitas, feita de gente imperfeita mas cabe a cada um de nós assumir e confiar no seu papel de promotor da Escola Inclusiva, no tempo e espaço que nos é dado operar.