A mesma entidade refere que no caso
dos alunos com perturbações no desenvolvimento, esse preço foi maior, dado que
despoletou ou agravou muitas das situações de déficit
de atenção com hiperatividade, ansiedade, autismo, transtorno bipolar,
transtorno de conduta, depressão, transtornos alimentares, deficiência
intelectual e esquizofrenia.
Um outro aspeto negativo
é o défice de experiências de socialização, de acesso aos contextos naturais e a
atividades sociais, bem como aos grupos de referência; fundamentais para uma
construção da personalidade, identificação e desenvolvimento de capacidades, quer
na escola, como fora dela, onde a pobreza e a língua materna, quando
associados, agravaram mais as desigualdades gritantes que se verificaram.
No caso de crianças com
deficiência intelectual, transtornos de aprendizagem ou perturbações da
comunicação e comportamento, tudo se agrava, devido a uma maior necessidade
dessas vivências para o seu desenvolvimento. O isolamento, o acesso muito
deficitário às aprendizagens e todo o afastamento promovido, não permitiram um
crescimento adequado nessas áreas, no período etário ótimo para tal.
Mesmo no ensino a
distância, os alunos com necessidades específicas não tinham autonomia, nem
competências digitais para participar e as famílias não puderam compensar.
Na área da Inclusão e da
Educação Especial o desenvolvimento da autonomia, da comunicação, da
motricidade e da área socio emocional, constituem a maior fatura paga por estes
alunos.
A própria máscara usada por muito tempo, inibe a concretização da comunicação e da aprendizagem social essenciais nos primeiros anos de vida, bem como nos alunos com atraso no desenvolvimento, que necessitam dessa forma de comunicação e de estabelecer relações e aprendizagens sociais.
Para além de toda a
aprendizagem em contexto perdida, que é a mais rica e eficaz, foram também
postas em causa competências básicas comportamentais que predispõem para a
aprendizagem, bem como a leitura, a escrita, a manipulação, a realização de atividades
práticas e funcionais, ou o acesso ao lúdico.
Neste momento torna-se
fundamental um reforço de meios e ações para implementar respostas de equidade,
não só para o insucesso e défices na aprendizagem, mas também para o apoio
psicossocial.
O Plano de Recuperação
ficou muito aquém do necessário face ao diagnóstico traçado e o anúncio da sua
continuidade é contraditório com a diminuição de crédito horário e a
dificuldade em dispor de AO, entre outros recursos necessários.
Não podemos ter um
investimento remediativo pontual, mas sim uma aposta estrutural, continuada e
consistente, em recursos e áreas como:
- Professores
Especializados; Psicólogos; Terapeutas, Assistentes Sociais e Assistentes
Operacionais, para reforçar os processos de inclusão e aprendizagem, de saúde
mental e de competências na área social;
- Equipas multidisciplinares
como o CRI, devem estar inseridas nas estruturas do ME e não ser contratualizadas
externamente sem ligação às dinâmicas pedagógicas. Em vez de investir na
inclusão em ambiente escolar, o Estado financia a exclusão.
- Equipas de Intervenção
Precoce, fundamentais para o apoio nos primeiros anos de vida, mas que não dão
resposta às solicitações, padecendo de falta de meios e recursos.
- Crédito horário
reforçado para apoios, parcerias e coadjuvações, no âmbito das dificuldades de
aprendizagem decorrentes da diversidade linguística e cultural, bem como constrangimentos
sociofamiliares, económicos ou outros.
- Redução do número de
alunos por turma e classes de um só ano, para permitir um trabalho mais
individualizado e mais tempo de permanência em turma dos alunos com NE.
"Artigo publicado na revista "Escola Informação" do SPGL em outubro 2023"
Imagem de Alexandra_Koch por Pixabay
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