Afinal o fecho das
escolas até ao final do ano letivo é uma solução boa ou má? É óbvio que fechar
escolas é a pior coisa que pode acontecer numa sociedade. Teremos alternativa?
Não. Tomamos esta decisão terrível, acreditando que é a melhor, porque o preço a
pagar seria à base de vidas humanas e isso não é sequer negociável. Pelo menos
aqui e agora, no nosso país. Então o que fazer, quando tomamos uma decisão má,
mas necessária? Podemos tirar algo de positivo dessa decisão.
Podemos aprender muitas coisas com esta situação e vamos, por isso, pensar no mal que fazemos, para futuramente podermos tornar-nos em melhores pessoas. Um pouco como se fazem com as crianças: - Agora ficas aí a pensar no que fizeste.
Podemos aprender muitas coisas com esta situação e vamos, por isso, pensar no mal que fazemos, para futuramente podermos tornar-nos em melhores pessoas. Um pouco como se fazem com as crianças: - Agora ficas aí a pensar no que fizeste.
E podemos aprender
tanto com esta situação, a começar logo pelo que se torna evidente, que é a
importância visceral que a escola tem numa sociedade civilizada. Não só como
repositório de conhecimento que, de tão vasto, tem de transitar para as
próximas gerações, mas também de formação social humana, fundamental para nos
tornarmos pessoas de uma espécie gregária que tem na sua força, as relações e
solidariedades com o outro. É na escola que se constroem vidas, relações,
valores, personalidades. É onde se estabelecem relações de qualidade, muitas
vezes as únicas de uma vida, é onde aprendemos que há outras pessoas, e que nós
somos uma delas e que todos falamos e agimos ajustando-nos e crescendo juntos.
A escola é a instituição que nos separa da barbárie. Ela pode ser o reflexo
reprodutor das sociedades onde se insere, mas é nela que reside, ao mesmo
tempo, a possibilidade de induzir mudanças individuais e sociais. Um ser humano
só se completa com a riqueza dos contextos sociais e de aprendizagem da escola.
E no presente contexto aprendemos também, pasme-se, que uma sociedade só
consegue funcionar e produzir riqueza se tiver um bom sistema educativo a
funcionar.
Como diz o povo, nós
só damos o devido valor aquilo que perdemos. O mesmo se passa com a escola e
também com os professores. Essa classe maldita, que tantas vezes tentam
desvalorizar, dividir, atacar… afinal agora parece que são uma profissão com
algum valor social. Afinal os ordenados parecem não ser assim tão exorbitantes,
as férias são afinal merecidas, porque há hoje tanta gente a precisar de umas…,
mas essencialmente ficamos a saber que os professores são a escola. Porque não
são os edifícios e as mesas, nem os computadores que fazem a escola. A escola é
feita de e pelos professores. É o produto que oferece e é isso que os clientes
lá vão buscar. Já é tempo de ver com clareza que, quando se espera algo da
escola, quando se quer investir no ensino, o único investimento que surte
efeito, é aquele que se destina às pessoas. E isto parece simples, mas não está
claro, porque por vezes parece que se separa a exigência de uma escola de
qualidade, como se isso não fosse a mesma coisa que formar com qualidade os
professores. Muitas vezes fala-se no investimento em Educação, como se isso
fosse por si só alguma coisa, quando o que se deveria fazer era investir nos professores.
Por isso se tornam inconsequentes os raciocínios que pretendem fazer reformas e
mudanças no sistema de ensino, esquecendo que a única mudança possível, só pode
acontecer, emergindo e com o trabalho dos professores.
É por isso que neste
período de ensino à distância, todos aprendemos, se calhar, a dar mais valor
aquilo que é verdadeiramente importante. Se o isolamento social nos ensina
algo, é que estamos desejando voltar a abraçar-nos uns aos outros. Se o fecho
das escolas no ensina algo, é que todos estão desejosos que ela abra. Mas, por
enquanto, termos ensino à distância. Mas estejam descansados que os professores
cá estarão para fazer em dez dias, uma mudança que deveria ter sido feira em 10
anos. É o hábito. Cá estaremos para apoiar as famílias, para mitigar as enormes
desigualdades desta situação, para desenrascar com os nossos telemóveis a falta
de recursos, para acompanhar e animar os alunos e os pais, quebrando a
distância e estando, como sempre, na linha da frente, querendo o melhor para eles,
querendo que todos ganhem e que nenhum se perca. Que ninguém duvide que não vão
ser mãos cheias de discursos e teorias académicas, que vão solucionar esta
crise. Serão simplesmente os professores. Porque se há coisa que todos vamos
aprender com o isolamento social é que há os que falam, há os que vociferam,
hás os que sabem tudo e depois há a escola, onde trabalham os que fazem
acontecer.
Publicado originalmente no meu Facebook a 10 de
abril durante período de quarentena.
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