Com este encerramento tardio e atabalhoado das escolas
e a preparação do apoio à distância, verificamos que, afinal, quem não estava
preparado era o Ministério da Educação. As escolas puseram de pé os seus planos
já trabalhados desde julho, reorganizaram recursos, espaços, horários e
metodologias de ensino, tendo também como base a experiência anterior, mas,
tudo é posto em causa pela inexistência de meios tecnológicos.
O ME falhou redondamente na preparação daquilo que
tinha prometido há muito, garantir esses meios para os alunos que deles
necessitassem, mitigando as desigualdades gritantes verificadas no ano letivo
anterior.
Nem os alunos carenciados receberam computadores, nem
as escolas receberam meios e muito menos os professores receberam qualquer meio
ou compensação. O resultado está à vista, vamos ter os professores a usar os
seus próprios recursos para garantir o apoio aos alunos e vamos manter sem
recursos todos aqueles alunos que não os tinham. Isto agravado devido aos
horários de sessões síncronas serem mais exigentes, tornando tudo mais difícil,
por exemplo, para quem tem irmãos ou pais em t
eletrabalho e não dispõe de meios
para todos.
Mais uma vez as escolas andam a fazer um esforço
enorme para tentar resolver esta situação, em articulação com as autarquias e
toda a comunidade educativa para se tentar colmatar em 8 dias o que o ME não
fez em 9 meses. Atabalhoadamente o ME vai dando indicações vagas ou
contraditórias, falando em 70% síncronas, mas desdizendo a seguir, falando na
entrega de computadores, mas afinal só em abril, bem como, confrontado com as
falhas, dá orientações para serem considerados de risco, os alunos sem meios de
assistir às aulas, sendo, por isso, canalizados para as escolas de acolhimento.
Uma situação de última hora, que está a fazer com que essas escolas, que
deveriam ser de apoio presencial excecional, passem a receber um elevado número
de alunos sem meios tecnológicos, sem que, muitas vezes, elas próprias tenham
computadores.
Chegamos assim a esta situação miserável de remendar o
irreparável, de tapar com a peneira o que está à vista de todos. O ME falhou.
Falhou no que prometeu. Falhou na planificação e preparação. Falhou em dar
orientações claras e cientificamente informadas e falhou pela ausência e falta
de comparência em todo este tempo, votando as escolas ao seu destino e à sua
capacidade de resolver. Finge, por exemplo, que o ano vai ser normal em termos
de currículos e avaliação, como se houvesse dois mundos paralelos. Só que não
há e o desenrasque tem limites. A negação não permite resolver trapalhadas.
Enquanto tudo isto ocorre, deixando a descoberto as
falhas do sistema, torna-se cada vez mais suspeito, se a teimosia em fechar as
escolas, não escondia afinal, tudo o que agora irá rebentar a partir de segunda
feira.
Uma tutela que deixou o seu bem mais valioso, os
recursos humanos, à sua sorte e que, ainda agora, quando centenas ou mesmo
milhares de professores, como os de Educação Especial são chamados a garantir
apoio presencial aos alunos de risco, aos filhos de profissionais essenciais e
aos alunos com Medidas Adicionais (como se chamam agora); nem sequer
desencadeia medidas especiais de prevenção e proteção para estes profissionais
de linha da frente.
Podemos fingir que está tudo bem, podemos até tentar vender
essa ideia, mas desta vez as situações de carência de meios e falhas do sistema
vão rebentar e vai ficar a nu uma situação de falta de planeamento e abandono
dos profissionais, com as escolas, mais uma vez a empenharem-se muito para além
do razoável, para dar a cara com um mínimo de dignidade aos alunos e suas
famílias.
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